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29 março 2023

Um Mergulho na Inteligência Artificial

 

Em época de mergulhos, vamos conhecer um pouco melhor o conceito de Inteligência Artificial (IA) e ver que, quer gostemos ou não, já mergulhamos nesse oceano que é a IA. Embora, para a generalidade do cidadão, continue a ser uma “coisa de filmes” e realidades como as relatadas no filme Matrix ainda se afigurem longínquas, atualmente a Inteligência Artificial já tem impacto em muitos aspetos das nossas vidas. Ainda no passado dia 22 a Google informou que demitiu o engenheiro de software Blake Lemoine depois de ele ter afirmado ao The Washington Post, no mês passado, que o Chatbot da empresa tem alma e sentimentos. A afirmação referia-se à Google LaMDA (Language Model for Dialogue Applications), uma ferramenta de IA apresentada pela Google em maio de 2021. A companhia apressou-se a divulgar uma nota acusando Lemoine de “violar persistentemente as políticas claras de trabalho e segurança de dados que incluem a necessidade de proteger as informações do produto”, afirmando que as alegações “são totalmente infundadas” e que trabalhou com ele durantes meses “para esclarecer” a situação.

A IA é uma ideia que remonta ao Mundo Antigo. Em várias eras, filósofos e matemáticos ponderaram e dissertaram sobre a possibilidade de se automatizar o raciocínio e o pensamento humano. O campo de estudo com a designação Inteligência Artificial surgiu oficialmente em 1956, numa proposta de um grupo de trabalho liderado por John McCarthy, numa conferência no Dartmouth College nos Estados Unidos da América.

A Inteligência Artificial apresenta-se como a área da Informática que se dedica à investigação e criação de software e hardware que possibilite ir além do mero cálculo e comportamento determinista. Que permita obter resultados semelhantes aos produzidos pela inteligência humana, como o raciocínio, a resolução de problemas, a aprendizagem pela experiência, o planeamento, a tomada de decisões otimizadas, ter em conta as perceções sensoriais, entre outras características que assumimos como humanas. Pretende-se criar sistemas capazes de responder a situações de forma muito flexível, dar sentido a mensagens ambíguas ou contraditórias, reconhecer a importância relativa de diferentes fatores nas situações, encontrar semelhanças entre situações apesar das diferenças, identificar distinções entre situações apesar das semelhanças que as possam ligar.

Para além da Informática, o seu desenvolvimento envolve diversas outras áreas, é o caso da Biologia, Psicologia, Linguística, Matemática e Engenharia. Assenta por um lado no estudo dos processos de pensamento e raciocínio humanos e, por outro, na aplicação dos resultados obtidos nesse estudo aos mais recentes desenvolvimentos tecnológicos, de modo a obter algo que se assemelhe aos processos cognitivos humanos.

O conceito é bastante abrangente e inclui a aprendizagem automática, tecnologias de processamento de linguagem natural, redes neuronais, algoritmos de inferência, entre outros. Engana-se quem pensa que a IA é um assunto para os cientistas e de utilização muito restrita. Embora ainda estejamos longe do ideal de humanoide senciente ou consciente, existem avanços significativos e a tecnologia já se encontra em aplicações de enorme impacto. A aplicação da IA já entrou na rotina em tarefas como o reconhecimento de imagem, tradução automática, extração de padrões de informação em contextos diversos, diagnóstico médico, construção de chatbots e muitas outras. Prevê-se que tenha um impacto considerável em praticamente todas as indústrias imagináveis. Ao pensar em IA vem-nos à ideia os assistentes virtuais como a Siri, a Cortana ou o Google Assistant, os jogos de realidade virtual ou as indústrias mais sofisticadas. Mas os nossos smartphones, computadores e outros dispositivos do quotidiano também já têm incorporada tecnologia com IA e a cada dia que passa mais processos da nossa vida são influenciados e impulsionados por ela. Até para tarefas mais criativas, como a escrita de textos ou composição de peças musicais, a IA foi testada com sucesso e criou peças que o público não conseguiu distinguir daquelas que foram criadas por humanos.

Nos cuidados de saúde, mediante a análise de sintomas, reconhecimento de padrões, monitorização de sinais vitais, ou outras técnicas, a IA já tem capacidade de fornecer sugestões de diagnóstico, auxiliar nas decisões médicas e sugerir tratamentos e medicação adequada, permitindo maior rapidez e precisão nos cuidados de saúde.

Na condução de veículos, ainda que os carros autónomos não sejam uma realidade do dia a dia, já temos disponíveis preciosos auxiliares à condução baseados em IA. É o caso da deteção de obstáculos e auxílio na travagem de emergência, da ajuda no estacionamento, do controlo de velocidade e da identificação de sinais de cansaço no condutor.

Em determinados contextos e tarefas, a IA consegue ultrapassar com larga vantagem os humanos. É o caso da análise dos mercados financeiros, em que pequenas flutuações de valores, que passariam facilmente despercebidos à atenção humana são facilmente identificados pelas máquinas e poderão desencadear uma reação rápida e lucros de milhões. Ou a monitorização e prevenção de ciberataques pela deteção de uma ligeira alteração no comportamento do sistema.

De facto, a IA tem melhor desempenho que os humanos na análise de grandes quantidades de informação de forma rápida e precisa. E pode fazer isso 24 horas, 7 dias por semana, sem introduzir erros devido ao cansaço. As máquinas, aliadas à IA, são mais eficazes que os humanos em tarefas muito repetitivas, que consomem muito tempo ou que obrigam a uma atenção extrema a vários fatores em simultâneo.

Outro aspeto importante é que a IA, sobretudo quando associada à robótica e a sensores, é particularmente adequada para situações onde a vida humana é mais suscetível de estar em perigo, em condições físicas extremas ou para benefício de pessoas com deficiência. É o caso dos trabalhos em minas, exploração do mar ou do espaço, montagem e deslocação de equipamento pesado ou desativação de bombas. A máquina “aprende” a identificar as situações seguras e as situações de perigo e a agir em conformidade.

Esses são apenas alguns exemplos de situações em que a utilização da IA permite um grande aumento da eficiência operacional.

Mas, é ingénuo pensar que a IA só pode ser utilizada para coisas que favorecem a humanidade. “Não há bela sem senão” e também no caso da IA existe o reverso da medalha. Estes sistemas envolvem um elevado investimento e estima-se que cause grandes vagas de desemprego, pelo menos no atual modelo de emprego. Além disso, para que os sistemas inteligentes “aprendam” precisam de analisar e processar muita informação. Temos de fornecer-lhes essa informação, disponibilizar-lhe todos os “segredos do negócio”, muitas vezes à custa da nossa privacidade ou outros aspetos sensíveis. Basta pensarmos num sistema de apoio médico que terá de conhecer todo o nosso historial de saúde e estilo de vida para poder tomar as melhores “decisões”. Ao expormos a nossa informação e a nossa estratégia a essa “inteligência” ficamos, de certo modo, reféns dessa tecnologia e nenhuma tecnologia ligada à Internet é inviolável. Mais, mesmo quando programada para algo benéfico, após fornecermos a informação ao sistema ele vai aprender e evoluir para atingir o seu objetivo de um modo que não podemos prever, nem assegurar que não acabe por tomar decisões controversas, erradas ou mesmo criminosas. Nas mãos da pessoa errada, ou mesmo inadvertidamente, a IA pode facilmente causar perdas avultadas, quer em termos humanos, quer em termos financeiros.

Muitos cientistas veem com apreensão a evolução desse campo da ciência. Mesmo sem cair em visões catastróficas, de filmes em que a humanidade é exterminada pelas máquinas inteligentes em prol de um bem maior para o nosso planeta, é fácil prever cenários em que as coisas poderão correr mal. O famoso físico Stephen Hawking afirmou “A criação bem-sucedida de inteligência artificial seria o maior evento na história da humanidade. Infelizmente, pode também ser o último, a menos que aprendamos a evitar os riscos” e “Acredito que o desenvolvimento pleno da inteligência artificial poderia significar o fim da raça humana”.

Apesar das opiniões controversas sobre o assunto, departamentos de defesa, universidades e grandes empresas tecnológicas investem milhões para criar produtos e serviços com base em IA. À medida que conhecemos as suas características e como utilizá-la mais eficazmente, a dinâmica do nosso trabalho, do nosso lazer, dos nossos locais de trabalho e mesmo das nossas habitações vai mudar para sempre. Resta perceber como a sociedade também se adaptará a esta revolução que já se iniciou.

 

Elisabete Maria da Silva Raposo Freire

Professora do Departamento de Informática

Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade dos Açores

elisabete.ms.freire@uac.pt

 

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