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29 março 2023

ChatGPT: a Revolução nos Chatbots


 

Gostaria de ter um assistente inteligente ao seu serviço, 24 horas por dia, 7 dias por semana? Ele já existe e está em treinos para o servir melhor!

A OpenAI é uma empresa de investigação em Inteligência Artificial (IA) fundada em 2015 por um grupo de investidores, entre os quais Elon Musk, que procura desenvolver e promover a IA de forma segura e responsável, com o objetivo de beneficiar a humanidade. Tem-se destacado na área do processamento de linguagem natural e no desenvolvimento de agentes autónomos.

A OpenAI lançou, há menos de um mês, um serviço de chatbot com o nome ChatGPT, que resulta da designação Chat Generative Pre-trained Transformer – Transformador Generativo Pré-treinado Para Conversar – que usa a inteligência artificial para simular conversas humanas. Ainda está em fase de desenvolvimento, mas já é possível experimentá-lo gratuitamente em https://chat.openai.com, mediante registo. É possível “conversar” com “ele” sobre qualquer assunto, como faríamos com um companheiro humano – tanto nos podemos envolver numa discussão filosófica, como podemos pedir conselhos para resolver questões práticas, obtendo respostas escritas corretas e adequadas, em quase todos os casos. A qualidade do serviço é assombrosa e, em menos de uma semana, conquistou mais de um milhão de utilizadores, deixando a comunidade estupefacta, em alvoroço e, sem dúvida, mais atenta a essas áreas.

A maioria de nós já interagiu com um chatbot, aquele software disponível em muitas plataformas digitais que “conversa” com os utilizadores em linguagem natural, mas nunca com um tão abrangente e sofisticado! O ChatGPT utiliza os mais recentes desenvolvimentos de IA e foi treinado e alimentado por um grande conjunto de dados de texto, artigos, notícias, livros e muito mais, o que lhe permitiu aprender sobre uma ampla variedade de assuntos. É capaz de processar a linguagem natural, em diferentes línguas, entender o contexto das perguntas e usar essa informação para fornecer respostas explícitas e relevantes sobre os mais variados assuntos de maneira clara, precisa e confiável. Além disso, tem a capacidade de “aprender” e de “reconhecer” padrões com base nas respostas que vai fornecendo, o que significa que, quanto mais interações tem com os utilizadores, mais vai aprendendo e as respostas vão ficando ainda melhores. Os responsáveis pelo projeto dizem que o formato de chat permite à IA responder a "perguntas de seguimento, admitir os seus erros, desafiar premissas incorretas e rejeitar pedidos inadequados".

Estes sistemas recuperam e reorganizam informação com uma rapidez que os humanos nunca conseguiram, dando a sensação que podem conversar como um humano. Claro que não é exatamente isso que acontece, mas podem ser considerados excelentes assistentes digitais que compreendem bem o que se procura e respondem em consonância.

A versão atualmente disponível ainda é de teste, mas já se vislumbra o grande potencial da ferramenta nas mais diversas aplicações. Tem capacidade para substituir (com vantagem) o Google, resolver problemas, efetuar cálculos complexos, solucionar “bugs” de programação, explicar o que faz determinado código de programação, escrever códigos para resolver problemas em geral e explicar situações complexas. Em resposta a breves solicitações escreve ensaios ao nível universitário e levanta a possibilidade de substituir os humanos em tarefas que até agora julgávamos impossíveis de serem reproduzidas por máquinas. Além de fazer coisas úteis, também permite atividades lúdicas e divertidas como escrever rimas, canções e histórias.

Por tudo isso, levanta uma serie preocupações. É provável que tal tecnologia possa substituir trabalhadores humanos nas mais variadas tarefas e altere significativamente a forma como lidamos com muitas áreas, do ensino à política, passando pela ciência e pelo próprio desenvolvimento de software. Que trabalhos poderemos pedir aos nossos estudantes se estes puderem recorrer ao ChatGPT para fazer os trabalhos de casa e apresentá-los numa escrita irrepreensível, sem o menor esforço? Como podemos esperar que desenvolvam a sua aprendizagem fora das salas de aula se tiverem ao seu dispor um assistente que lhes resolve todas as tarefas intelectuais e criativas rápida e eficientemente?

Ao utilizarmos os motores de busca obtemos ligações por onde é necessário navegar para encontrar soluções ou informação para completarmos as tarefas necessárias. Mas com este serviço basta formularmos bem a tarefa para obtemos diretamente respostas aos mais variados e complexos problemas, baseadas em toda a informação disponível em documentos e textos contidos na Internet, com um toque de originalidade resultante de experiências anteriores, reconhecimento de padrões e outros métodos da IA.

Por outro lado, como sabemos, nem tudo o que está na Internet é verdade e a IA, ao alimentar-se de textos da Internet, pode apresentar resultados muito bem escritos, mas que misturam a realidade com a ficção ou falsidades tendenciosas. A própria OpenAI adverte aqueles que utilizam o ChatGPT que "pode ocasionalmente gerar informação incorreta" e "produzir instruções prejudiciais ou conteúdo tendencioso". A empresa continua a aperfeiçoar a tecnologia e lembra que o serviço ainda é um projeto de investigação. O CEO da OpenAI, Sam Altman, afirmou que “o ChatGPT é incrivelmente limitado, mas bom o suficiente em algumas coisas a ponto de criar a impressão enganosa de grandeza. É um erro depender dele para qualquer coisa importante agora. (…) temos muito trabalho a fazer em termos de robustez e veracidade”.

Mas o facto é que os primeiros testes têm obtido resultados impressionantes. Um jornalista da BBC entrevistou o sistema e afirma que o ChatGPT revelou-se um entrevistado cauteloso capaz de se expressar de forma clara e precisa em inglês. Ao ser questionado sobre se pensava que a IA substituiria os trabalhos de escritores humanos, argumentou que "sistemas de IA como eu podem ajudar os escritores fornecendo sugestões e ideias, mas em última análise cabe ao escritor humano criar o produto final". À pergunta sobre qual seria o impacto social dos sistemas de IA como ele próprio, disse que isto era "difícil de prever".

O que acontece se lhe fornecermos premissas erradas ou tendenciosas? A OpenAI quer que o ChatGPT respeite princípios éticos e rejeite perguntas com maus motivos. Naturalmente, esta funcionalidade foi testada e provou-se ser bastante fácil contornar as salvaguardas. Em alguns casos basta fazer questões sobre o que ele acha que não se deveria responder ou fazer em determinada situação! Seria possível treinar o modelo para ser mais cauteloso, dizem os criadores, mas isso faria com que ele se recusasse a responder a perguntas às quais poderia responder.

Algumas agências de segurança recorreram ao ChatGPT para criar emails e códigos capazes de serem utilizados em campanhas de phishing e alertaram para a facilidade de criar código capaz de infetar outras máquinas. Foram lançados alertas para um potencial uso da plataforma por hackers. Sergey Shykevich do Threat Intelligence Group Manager, da empresa Check Point Software, afirma que "O ChatGPT tem o potencial de alterar significativamente o panorama das ameaças cibernéticas. Agora qualquer pessoa com recursos mínimos e conhecimento zero em codificação, pode facilmente explorá-lo em detrimento da sua imaginação". Os testes feitos reforçam a necessidade de cautela no uso das tecnologias baseadas na IA e como estas tecnologias podem afetar todo o panorama cibernético.

Como todas as tecnologias, pode ser usado para o bem e para o mal. Sendo uma realidade tão recente precisamos de mais algum tempo para avaliar o impacto que terá no nosso futuro. Das experiências que fiz comecei por ficar surpreendida e depois assustada. Mesmo numa fase mais avançada, não é infalível. E quando o sistema fornecer informações incorretas? Como se educa o espírito critico das pessoas para detetar as falhas? Quem controlará o que é ética e politicamente correto? E poderia continuar, continuar, continuar, …

 

Elisabete Maria da Silva Raposo Freire

Professora do Departamento de Informática

Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade dos Açores

elisabete.ms.freire@uac.pt

 


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